O PAÍS DOS DROMEDÁRIOS

Há cerca de uma década atrás eu estava em uma reunião de conselho presidida pelo Dr. Ozires Silva. Eu, como asset manager, defendia a aprovação do orçamento anual de um importante hotel de luxo de São Paulo. Esperava que todo o esforço que eu havia feito nas negociações com o operador hoteleiro fosse reconhecido pelos investidores reunidos naquela reunião.

Esforcei-me para explicar em detalhes sobre o mercado, seus desafios, posicionamento do hotel, etc. Inclusive porque os investidores institucionais estavam alí representados por profissionais não especializados. Então meu desafio era maior.

Quando acabei de fazer a explanação concedi a palavra para perguntas. E eis que as mais estapafúrdias questões foram colocadas em discussão. Eu mal iniciava uma resposta, e tentava orientar o raciocínio, e outro conselheiro engatava na conversa do outro com ponto sem relação com a matéria em discussão. Quando silogismos imperavam na sala o presidente do conselho pediu a palavra; todos ficaram em silêncio. Então perguntou: “Alguém sabe me dizer o que é um dromedário?”

Todos ficaram parados, inertes, sem entender nada, literalmente boquiabertos.

Aí o Dr. Ozires respondeu “é um cavalo feito em uma reunião com decisão por consenso”.

Paulatinamente os conselheiros foram se acomodando em suas cadeiras e o silêncio retornou ao ambiente. Foi quando o presidente colocou o orçamento em votação e as discussões foram produtivas e o orçamento foi finalmente aprovado.

Qual o aprendizado dessa história? Como se aplica para o Brasil?

Infelizmente a vida da nação é endereçada nas discussões que partem de pontos errôneos e, portanto, chegam em destinos inadequados.

Para que “Vale Paletó”? E o “Vale Moradia”? “Cotas Raciais” para privilegiar alguns em nome de seus antepassados? Por acaso seria então justo entregar o governo da Alemanha aos judeus para reparar um passado que já está escrito e nada vai mudá-lo?

Com o argumento de que uns precisam de mais que outros e considerando que o brasileiro é tolerante, privilégios foram sendo edificados em nossa legislação e destruindo o futuro da nação. Pouco a pouco roubando a poupança popular. Pouco a pouco aumentando o endividamento. Pouco a pouco desestimulando a saudável competição e destruindo a meritocracia.

Hoje a Previdência Social consome mais de 25% do orçamento da União Federal, sendo que cerca de 75% dos recursos são empregados para beneficiar apenas cerca de 25% dos pensionistas.

Hoje 51% das vagas nas universidades federais estão reservadas para cotistas, ou seja, para privilegiados.

Quem não é funcionário público, quem não é agraciado com alguma cota, é um cidadão de segunda classe? Onde está o verdadeiro sentido da Igualdade?

Está na hora de acabar com o país dos dromedários.

Vamos devolver o Poder ao Povo!

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  1. Eu concordo, em tese, com a extinção de privilégios. Claro que esbarraríamos em situações protegidas por direito adquirido. Mas não há outra forma de moderinizarmos e democratizarmos nosso Estado. Penso que deveríamos ter um sistema previdenciário único e igual para todos os cidadãos, independentemente de serem políticos, militares ou funcionários públicos. Penso também, que qualquer pessoa que exerça um trabalho, seja o gari ou o deputado, deveriam receber um pagamento por seu trabalho que incorporasse alimentação, transporte, etc., ecada um deveria pagar sua prestação de previdência social, e não a e,presa empregadora. Quanto ao sistema de cotas, estive conversando com um professor de meu tempo do curso de graduação, consignou um pensamento importante. O problema não é conceder a cota e o beneficiário ingressar no curso universitário. O problema é que se esse curso universitário mantiver seu bom nível de ensino, será que esse cotista beneficiário conseguirá completar o curso e se formar? É um dilema inquietante! Cedo ou tarde, teremos que encarar com sinceridade essas questões, visto que é impossível desenvolver economicamente e democratizar nosso País de outra forma.

    • Em toda sociedade haverá grupos que desejarão ter privilégios e benefícios, pois consideram que são merecedores. Assim tem sido a história da humanidade. Mas espero que um dia os seres humanos considerem que todos são iguais perante a lei e assim devem ser tratados, pois privilegiar alguém significa tratar as pessoas desigualmente.

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