HIPOCRISIA OLÍMPICA

Foi uma grata surpresa assistir à abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Elegância, preocupação com a sustentabilidade, com o planeta e a história do Brasil se misturaram em um espetáculo atraente, plasticamente bonito e inteligente.

O mundo se maravilhou com o evento e palavras positivas foram repetidas em todos os cantos do globo.

Personalidades repetiram chamados de paz e união entre os povos.

Momento mágico que fez com que o público presente ao estádio do Maracanã, e todos os telespectadores do Brasil, se animassem e sentissem orgulho do país, finalmente.

Mas esse mesmo público sabia que estavam acomodados em obra pública fruto de corrupção. Que os estádios edificados para os Jogos Olímpicos, que as obras de infra-estrutura realizadas com a desculpa das Olimpíadas e tantos outros gastos com recursos públicos haviam sido provavelmente objetos de atos corruptos, como largamente divulgados pela imprensa.

Esse mesmo público que reclama das injustiças e que clama por igualdade era composto por políticos, empresários, juízes, militares, funcionários públicos, enfim, por uma diversidade de pessoas que reclamam dos privilégios… dos privilégios dos outros.

Os que desejam uma reserva de mercado, os que não abrem mão do “vale paletó”, os que exigem “vale moradia”, os que não admitem terem aposentadoria como a maioria regular dos brasileiros. Esse era o povo que lá estava. Misturados aos brasileiros comuns, que trabalham honestamente, que carregam o país nas costas, que pagam todos os tributos que sustentam os privilégios dos cidadãos que se pensam de primeira classe, lá estavam os hipócritas se maravilhando com o espetáculo.

Não muito distante do Maracanã, em comunidades carentes, controladas pelo crime organizado ou por milícias armadas, símbolo óbvio da ausência do Estado, lá estavam brasileiros jogados à própria sorte, também assistindo aos Jogos Olímpicos pelas televisões alimentadas por ligações irregulares de energia e de tv a cabo, sem saber que os responsáveis por suas mazelas estavam olimpicamente orgulhosos deles próprios.

Seria de uma grandeza olímpica se todos os brasileiros aceitassem verdadeiramente serem iguais perante a lei. Que todos fossem tratados igualmente sem privilégios e que qualquer privilégio fosse objeto de punição. Que todos fossem virtuosos e vissem no outro seu próprio complemento.

Não há Fraternidade sem Igualdade. E não há Igualdade sem Liberdade.

Está na hora de mudar o país.

Vamos devolver o Poder ao Povo!