A CULPA É DO CABRAL?

O brasileiro sempre foi criativo e com bom humor, sabendo se divertir com sua própria desgraça.

O programa de comédia intitulado “A Culpa é do Cabral” é mais um exemplo disso.

Mas a culpa é do Cabral?

Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em 22 de abril de 1.500. Um enorme território cheio de vida, com energia, água, excelente clima e alimentos à vontade. Mas bastante longe da Europa. Tão distante que, se não fosse Napoleão invadir Portugal e forçar a Rainha, o Príncipe Regente e toda a Corte a fugirem de Portugal em 29 de novembro de 1807, escoltados pela marinha britânica, pouco o Brasil teria se desenvolvido.

Dizem que Napoleão relatou que o único governante que o enganou foi o Príncipe Regente Dom João. Enquanto negociava a rendição a família real portuguesa preparava os navios para fugir.

Foi assim que se estabeleceram no Brasil e transferiram a capital do Reino de Portugal para o Rio de Janeiro.

Uma vez estabelecidos no Brasil vários atos foram tomados como a abertura dos portos às nações amigas, elevação do Estado do Brasil à condição de Reino Unido à Portugal e Algarves, criação do Banco do Brasil, criação da Imprensa Régia, da Academia Real Militar, abertura de escolas de medicina na Bahia e no Rio de Janeiro, dentre uma série de outras medidas que se deram ao longo dos anos.

O Brasil passou a ser a sede da Coroa que, para se alimentar, para alimentar toda a Corte, precisava de recursos somente coletáveis no Brasil, já que Portugal havia sido tomado por Napoleão Bonaparte.

Foi aí que a Coroa Portuguesa decidiu a sorte do Brasil em ser, definitivamente, uma colônia de exploração porque, é claro, sempre houve o sonho de retorno a Lisboa.

Ainda que no final do século anterior homens de valor tentaram dar início a movimento pela independência do Brasil na antiga Ouro Preto, nas Minas Gerais, foi no século XIX que a nuvem negra da exploração passou a sobrevoar o país, ensinando os locais que os membros da Corte esperavam que a Coroa arrecadasse tributos para serem repartidos, de alguma forma, com eles.

Ser amigo do rei é uma expressão antiga e até hoje muitos dizem que preferem ou desejam ser amigo do rei. É uma alusão ao processo contínuo que a Corte se retro alimenta a partir do tesouro coletado pela Coroa ou pelos privilégios cartoriais distribuídos e criados pela mesma Coroa.

O sentimento de que a expropriação alheia é aceita foi difundido aos quatro cantos. Entrou no DNA do povo.

Parece que nada mudou, certo?

A Coroa foi substituída pelo Estado. Os dirigentes do país hoje são chamados de políticos e os membros da Corte são os empresários eleitos, apadrinhados por reservas de mercado, cartórios, recursos subsidiados, e os altos funcionários públicos, notadamente os que integram os Poderes Legislativo e Judiciário.

E o desejo de expropriação alheia permanece, como o roubo da fiação da companhia telefônica, como o “gato” nas residências, como o estacionar na vaga não permitida, como o suborno ao guarda de trânsito (diga-se de passagem, aceito pela autoridade, como forma expropriatória).

Entendeu por que a Suprema Corte julga casuisticamente? Está no DNA do povo.

A culpa, portanto, não é do Cabral. Pode até ter sido de Napoleão, que empurrou Dom João ao Brasil, e sua estada unificou o país com a criação de entidades públicas, estradas, correios, etc. Caso contrário, como ocorreu na parte hispânica da América, o Brasil teria se dividido em diversos países independentes.

Como mudar isso?

Basta retirar o Tesouro do Estado e devolvê-lo ao indivíduo que o gerou. Basta diminuir a casta de amigos do rei e eliminar cartórios, privilégios, reservas de mercado, subsídios… Se o boi engorda com o olho do dono, vamos deixar o dinheiro com seus verdadeiros donos.

Vamos devolver o Poder ao Povo!